Finalmente começam a aparecer vários estudos científicos das prováveis/ possíveis consequências desta ameaça invisível de grande porte que chocalhou o mundo!

Como não poderia deixar de ser….porque estão sempre na crista da onda, A AVENTURA SOCIAL ( Prof Dra Margarida Gaspar de Matos e sua Equipe….. já lançou um livro logo no início do ano corrente ( fevereiro) sobre os comportamentos dos nossos mais pequenos ( crianças e jovens!

Na Fundação Francisco Manuel dos Santos, em Maio último apresenta um interessante artigo multidisciplinar dos impactos da pandemia…em Portugal…. Entre tantos outros já decerto escritos, pensados e repensados….

 

Enfim, aqui e fora de portas, nas várias áreas do saber, entre política, economia, funcionamento social, laboral e interpessoal, da medicina à computação tudo tenta encontrar respostas, sequelas, viragens, ou os imutáveis que se escondem sorrateiros por entre as enxurradas de mudança, e começam a emergir algumas conclusões, embora tímidas, envergonhadas…

Foi, até para os mais velhos, já mais causticados com life events tortuosos,  um evento único e traumático: para além do medo de ser contaminado, do pavor das notícias diárias, do isolamento forçado, pior para quem já vivia sozinho,o cenário hospitalar transformado,  quais filmes de terror ficcional, em que entre pessoas completamente despersonalizadas embutidas em “fatos espaciais”da cabeça aos pés, dando um andar trapalhão e pouco sintónico a quem lá por baixo se metia,  ou batas inusuais, máscaras e afins, apetrechado de tudo que seja aparelho inabitual, cheios de tubos invasivos ,fios, écrans e luzinhas sonoras, , máscaras de plástico atadas na nuca, numa tentativa falhada de evitar a falência progressiva do corpo em luta pela vida, o isolamento dos doentes, gemendo para o vazio, sem uma mão amiga a que se agarrar, foi talvez o que mais tocou os que ficaram privados de dar/ receber conforto, duma última despedida, dum derradeiro “gosto muito de ti” trocado em uníssono!

Os não doentes foram também isolados, algo não pensável num país livre!

o sair condicionado a certas horas e locais, privação das festas familiares mais tradicionais ( Natal, Páscoa…) o fechar de locais de diversão, do desporto, ao velho bar, o restringir a saída só a um concelho o que para algumas situações limitava quase ao descer duma rua ou lugar, ….

Naturalmente tiveram um impacto enorme no nosso dia a dia, tornando-o hoje ainda, por vezes estranho, diferente…

Mesmo já não sendo pedidos determinados procedimentos, foi muito tempo para se “ desligar o botão” e voltar ao “AP” ( ANTES DA PANDEMIA…..) que já lá não estava! Tudo mudou!

tanto isolamento por meses e meses tornam ainda hoje muito difíceis para alguns de nós, o estar com outrem….mais tempo, livremente, mais à vontade, mais como sempre foi….

Famílias mais divididas (pela distância e o pouco acesso, famílias em sobrelotação ( com aulas e teletrabalho no mesmo espaço e em simultâneo, divórcios não realizados por não haver condições para tal, limitando a pessoas em alta tensão a conviver diariamente em partilha de espaço ( quantas vezes demasiado pequeno e ameaçador) os crescentes problemas de saúde mental ( o medo das contaminações, os rituais de lavagem e verificação , os evitamentos de personalidades obsessivas que decerto se agravaram substancialmente, as ansiedades, a depressão que agudizou….já para não falar de tantos que renegados, e passados para segundo lugar, pela sobrecarga do sistema em ruptura pelos continuados cuidados aos doentes covid….

Também o ir a um hospital, não só ser temido, como desencorajado!, perdendo vida fora de tempo

Um vírus invisível tocou-nos a todos, não escolhendo raça, cor ou língua engolindo tudo e todos à passagem qual glutão insaciado….

Mas isto teve consequências e acentuou as desigualdades, criou novos hábitos, mostrou o outro lado de si, e nem sempre nos deparamos, ser o melhor de cada um.

E muitos ainda não os conseguiram readquirir ou restaurar…

E se muitos estavam na hora de se deitar fora, outros, tipo carrapato, foram de boleia e criou-se uma faixa de falta de bom senso, de deshumanismo, de exalar de emoções negativas de raiva e desprezo, totalmente indesejáveis e inadequados.

Apesar disso, e dado o tamanho raquítico que temos face á Velha Europa, fomos o grupo da frente no que respeita à quantidade de testes realizados por mil habitantes (décima posição entre os países da OCDE), adotando-se políticas de testagem aberta ao público, tomando-se ainda medidas restritivas ( índice de rigidez sanitária, que nos posicionou entre os 10 países com índices mais elevados. Também fomos “corredores de longo curso” na vacinação e em setembro de 21 tínhamos 85% da população com o esquema vacinal completo, tendo assim o nosso país atingido a liderança.

O cumprimento das medidas de contenção, apesar de alguns altos e baixos durante o continuar do processo, foi conseguido em geral com um nível muito elevado (depois do primeiro momento, devido a fadiga e isolamento…

têm-se vindo a notar impactos das medidas restritivas sociais na saúde física e mental e alteração de comportamentos, como aumento de peso em 31% dos inquiridos ( restrições nas saídas, frequência de locais de treino e prática de desporto….e o Soffing “ desporto predilecto de compensação para quem nem cão tinha para poder sair….acompanhado da velha coca cola e as bolachinhas que só se percebem quando a mão apalpa o fundo da caixa….

Redução de horas de sono ( 30%)

Aumento do consumo de psicofármacos( 9,4%)

Aumento do consumo de tabaco e álcool( 8,1%) sobretudo nos mais jovens- menos de 30 anos e excepto o aumento do consumo de álcool e tabaco, no sexo feminino.

O bem estar subjectivo revelou-se baixo (especialmente nas pessoas abaixo dos 50 anos e menor em mulheres e indivíduos de classe social menos favorecida ).

A qualidade das relações interpessoais foi menos positiva ( opinião dos mais novos),

todos estes impactos negativos tendo sido menores depois do segundo confinamento.

Também a nível financeiro se acentuaram as diferenças: enquanto a classe média ou média alta conseguiu fazer poupanças, a classe baixa e média baixa passou mal.

Nada foi igual para todos! Antes se verificaram as diferenças já existentes e o agravamento de algumas situações em equilíbrio instável.

Em relação ao funcionamento familiar, parece ter aumentado a coesão entre os membros do agregado, mais do que acentuação de conflitos, havendo maior e mais igualitária participação nas tarefas de casa que anteriormente à Pandemia

A questão do trabalho em casa fez surgir vários problemas: falta de equipamentos dos próprios ( + de 30%) e dos filhos ( mais de 40%); dificuldades, falta de qualidade da internet ( + de 20%); falta de espaço/ falta de espaço/privacidade para trabalhar ( 15%).

Maioritariamente as mulheres e os inquiridos das classes mais baixas foram quem demonstrou maior vulnerabilidade.

O incremento o trabalho informal, a sobreposição dos locais de lazer/ trabalho/ estudo/ refeições provocaram naturalmente níveis de conflito maiores, prejudicial tanto ao trabalho como ao grupo família, mas mais acentuadamente na dinâmica destas últimas

A internet já era usada em 80% antes da pandemia e manteve-se o mesmo tipo de utilização ; só nas pessoas acima dos 70 anos que ainda não usavam, não houve qualquer aumento ( pelo menos sozinhas), pois a net teve um papel importante na comunicação e manutenção dos contactos familiares e amigos ( viram-se os bebés crescer por pequenos écrans, cantaram-se parabéns por tablet…pelo menos perdigotos ninguém apanhou…..

Foi também importante como acesso a notícias, serviços…até a compras online….

De facto esta pandemia afectou profundamente todas as pessoas, nomeadamente indivíduos que já poderiam possuir traços de POC ( medo das contaminações, nojo, rituais de  limpeza, ansiosos, depressivos)  as famílias, o trabalho e as instituições de forma directa e indirecta, pelas restrições a que obrigou, medidas de contenção implementadas com tanto impacto negativo no bem estar, liberdade, saúde mental, ainda mais, acentuando desequilíbrios e desigualdades prejudicando sempre, quem já era mais prejudicado

Levantando a cabeça timidamente, um de cada vez, a medo….tentando encontrar o que já não volta a ser como o conhecemos…( lembram-se de se espantarem de ver gente sem máscaras na cara, como se o normal não fosse esse??? Ou de recuar ao entrar sem máscara num qualquer supermercado???,

e como se ainda não tivesse sido mau demais, surge uma guerra sem fundamento, aqui porta com porta, que nos faz baixar os braços ao Covid e ficar pregados aos écrans como viciados em jogos de pancada!

De facto, não se falou muito mas….todos ficámos adictos a estas caixinhas de ecran nestes últimos tempos…

E agora sim….aparecem novas consequências, novas incertezas, novos desafios, nova inflação….e desatentamente – por cansaço, incredulidade ou fartos de tanto em tão pouco tempo, seguimos vivendo ignorando parcialmente a gravidade da coisa, só reparando nela quando a falta de produtos ou a subida de preços nos fazem questionar “O que se passa???”

O Adamastor – Lusíadas

E para colmatar a desgraça….os incêndios vêm dramaticamente recordar uma seca falada em fevereiro ( nunca tal visto) as alterações climatéricas que todos tentam ignorar….e o terrível período que está para vir com parcos recursos de elementos essenciais.